domingo, 1 de maio de 2016

Poesias premiadas


Um Dia


Era uma vez, um dia, Maria,
Que amava José, que amava Lia,
Que amava Otávio, que a corte fazia
À charmosa e alegre Bia
E nenhum deles sabia
Do mal que os consumia,
Pois,em uma cirurgia,
Há muitos anos atrás, havia
Um vírus, que em Maria
Pelo sangue se introduzia
E assim, por essa via
A vida de todos se esvaía
Aos poucos - e pouco havia
A fazer agora por Maria,
Por José, por Lia ...


1993 - 1° lugar no concurso de Poesias com o tema AIDS promovido pelo GRUVAA, em Bebedouro/SP, com a poesia Um Dia

Pesadelo


O que sonhei outro dia
Deu - me profunda agonia.
Eu sonhei que percorria
Uma grande casa vazia.

Quem se importa,
Quem suporta
Esta estranha casa sem porta ?

Quanta desolação,
Que profunda insatisfação
Nos brancos corredores
Dos desolados interiores.

E eu gritei como um condenado à morte.
E nem saiu - me a voz _ falta de sorte !

Eu procurava a saída
Desta casa _ a minha vida.



1994 - classificada entre os trinta melhores poemas, publicados em livro, no 1° Concurso de Poesia promovido pela Casa da Palavra, Santo André/SP, com a poesia O Pesadelo

UMA MESTRA INESQUECÍVEL

Para nós - tão exigente!
Ao ensino dedicada,
Sua vida consagrada
A buscar o bem somente.

- Meus olhos batem no erro! -
Dizia ela, feroz
E com firmeza na voz
Corrigia o desmazelo.

Era enérgica, a senhora,
Tão aprumada, vaidosa,
De seus deveres ciosa,
Nossa mestra carinhosa.

Aos setenta aposentou - se
Por força da lei. Não houve
aluna que não chorasse
sua falta e a lastimasse.

À Dona Zulmira Campos
Esta homenagem escrevo.
Vão - se passando os anos...
Minha mestra não esqueço.

Menção honrosa no Concurso Relâmpago Dia do Professor, promovido pela APEBS, com a poesia A Mestra 



Simplesmente Walquíria


Fui princesa mimada,
enclausurada em um jardim de delícias.
Só me faltava mesmo o príncipe,
que um dia viria rompendo barreiras, matando dragões,
despertando-me para o amor.
Ah!... o amor!...
Mas a fada madrinha,
feminista,
tinha outros planos;
libertou-me do encantamento
e qual folha ao vento
soltou-me no mundo
sem espada mágica, sem escudo invisível,
sem tapete voador, sem gênio da lâmpada,
sem anel encantado.
Sua estranha benção foi:
“Viver ou morrer. Lutar - sempre!”.
Se eu fosse uma heroína grega
já estaria nos céus,
transformada em constelação,
tantos os Carontes que subornei!
Quantos Cérberos enfrentei!
Como Orfeu, venci o inferno tenebroso
e no último descuido
perdi o meu bem mais precioso.
Caminho às cegas, andarilha,
como um Homero a exaltar uma civilização extinta.
Meus deuses há muito despencaram do Olimpo
e sufocam sob a superfície asséptica
de um mundo tecnicológico.
Sou como Eco, ninfa emudecida
a perseguir a beleza de Narciso,
a chorar meu destino desafortunado,
até que um deus se apiade de minha dor
e me transforme em pedra.

1997 - Menção Honrosa no Concuros de Contos e Poesias “Prêmio Cidade de Divinópolis”, com a poesia Simplesmente Valquíria



RESPOSTA AO CHICO

‘Já conheço os passos desta estrada
Sei que não vão dar em nada...’
Por isso me aprumo e mudo de rumo,
Procuro um novo futuro.
Por atalhos nunca dantes caminhados
Minhas passadas deixaram pegadas.
Este amor que quero tanto
Eu não evito – persigo,
E não o nego, e no entanto,
Contra este encanto,
Lanço um contra-feitiço.
Arrisco.
Vou colecionar experiência;
Do retrato em preto e branco
Passo logo ao colorido,
Ao filme e ao vídeo.
O coração maltratado
Corrigi com marca-passo
E vou marcando o compasso
Dos novos rumos que traço
Buscando dia após dia
Sempre uma nova alegria.

2003 – classificada entre as melhores no Concurso Nacional Ars Viva de Poesia Moderna a poesia: Resposta ao Chico.

Neblina




Se eu tivesse que escolher uma cor,
Escolheria o vermelho do sol nascente,
Com a vivacidade do fogo
E a violência do sangue.
O vermelho saboroso dos morangos maduros,
O vermelho alegre dos biquinhos de lacre
Ou fugidio como o das carpas malhadas.
Se eu pudesse colorir minha vida,
Eu a salpicaria de vermelho,
Pois a quero intensa e plena,
Inda que breve,
Um só pinguinho de vermelho bastaria
Para dar sentido ao cinzento arrastar-se das intermináveis horas aprisionadas na ampulheta da memória.

2006 - Concurso de Poesia Contemporânea

edição de premiação Contemporânea Projetos Culturais





O pão


Poesia classificada entre as 100 melhores no primeiro concurso de poesia do Shopping Miramar – Santos – em 1985
minha primeira poesia premiada

Dia após dia...
Aquela mesma agonia...
A vida sem alegria.

É comer poeira e lutar pelo pão.

Pão a que temos direito.
Disse Cristo – o pão nosso – NOSSO!!
Dai-nos hoje – HOJE – AGORA!!

Amanhã será tarde e estaremos todos mortos de fome.
Da fome do corpo
Da fome da alma
Da fome do coração
Da fome da fome de viver.

Mas viver é proibido.
É permitido apenas sobreviver.
E, por favor, não atrapalhe!
Que a sua sobrevivência não enfeie o ócio dos ricos.
Que a sua voz não se eleve acima da vala comum.
Que sua sede não se aplaque - 
A sua sede imensa de justiça -
que justiça não há.

Deus só prometeu o pão.

Preste atenção:
Aquela história do perdão ‘assim também serás perdoado’,
Aquela outra história do ‘livrai-nos do mal amém’,
Esqueça – foi tudo um mal entendido.

Afinal, quando ele veio ao mundo
não havia capitalismo
nem terceiro mundo
ou explosão demográfica
e centros de saúde para impedir os pobres de morrerem com dignidade.
Não havia creches para perpetuar a miséria das crianças
nem salário mínimo que aumentasse a humilhação do escravo,
que hoje perdeu o nome de ‘escravo’
mas não perdeu a servidão.

Dia após dia...
Aquela mesma agonia...
A vida sem alegria.

É comer poeira e lutar pelo pão.

É matar os sonhos, os ideais,
é sufocar o coração,
é desistir do amor, da amizade,
é morrer em vida
é morrer aos poucos
e pouco a pouco ir-se esquecendo que se é Homem
e sentir vergonha de pertencer a esta espécie.

Dia após dia...
Aquela mesma agonia...
A vida sem alegria.

Não existe outra opção.
É lutar pelo pão
e comer poeira (que o pão está muito caro)

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