domingo, 1 de maio de 2016

A história da migração de um povo em poesia -resenha do livro Encontro com poetas nipo-brasileiros



Tenho em mãos o livro Encontro com poemas nipo-brasileiros. Selecionei alguns poemas que traçam com delicadeza esta transição difícil das ilhas distantes para este inferno tropical. Sensibiliza-me a delicadeza com que aludem a temas delicados. O livro apresenta uma breve história dos rumos das formas artísticas japonesas em solo brasileiro. Os primeiros imigrantes aqui chegaram em 1908.

Haicai - esta forma poética expressa aspectos da natureza e sempre inclui um kigo (uma palavra tema que geralmente é uma flor, ou bicho, ou fenômeno climático) Ao vir ao Brasil o imigrante Nenpuku Sato recebeu de seu mestre uma missão a cumprir:

Cultive a terra e construa um país de haicais. - Kyoshi Takahama
(Hatta utte haikaikoku o hiraku beshi)

Nenpuku compôs seus haiku observando a natureza tropical. Um exemplo:

O brilho
das flores de café
ao nascer da lua.



Cumpriu bem sua missão, pois o Brasil é o país em que mais haicaístas existem, fora do Japão, e onde pessoas de todas as etnias se encantam com os grêmios de haicai, ao contrário do que acontece em outros países cujos povos são menos inclusivos que o nosso.

Tanka - modalidade poética com mais de 1300 anos de história, consistindo de 31 sílabas encadeadas, transmitindo sentimentos pessoais. As pessoas que se reunem para manter essa tradição são verdadeiras chamas guardiãs da cultura ancestral.

Senryû - é um poema satírico que surgiu em meados da Era Edo (século XVII) e utiliza a linguagem moderna para se referir a fatos cotidianos.

Muitos dos poemas, escritos em japonês, perdem a métrica na tradução; no entanto os sentimentos de toda uma comunidade é o aspecto importante desta leitura, e permanece fresco e intato. A literatura japonesa morrerá com seus autores, dos quais restam ainda alguns centenários, porém a nova geração juntamente com os brasileira admiradores dessas formas poéticas levarão adiante essas tradição, agora não mais japonesa, mas aclimatada.

Vamos aos textos garimpados no livro:

Haicais

Rio Ribeira _
canção de colheitas de chá
às suas margens.
Kazue Koyama



Ao som do poema
de Gonçalves Dias
canta o sabiá.
Reiko Akisue



Sabiás gorjeiam_
sensação de aconchego
no país hospitaleiro.
Saoko Kosai



Retornar ao Japão _
no vasto campo seco
sonhos enterrados.
Kazuma Tomishige



No Ano Novo,
telefonema ao Japão.
Felicitações!
Mitsue Ino



Dia do imigrante_
Amor à terra natal
e louvor a este país.
Haruno Nishida



Tanka

Atravessando a rua
com a nora de olhos azuis,
mãos que me tocam
transmitem calor.
Reiko Abe



Passei a gostar mais de futebol do que do
sumô, e assim
fui me integrando no meio dos brasileiros.
Asahiko Fujita



Senryû

Envelheceram os imigrantes
que ainda cantam a terra natal.
Kobayashi Yoshiko



Não se mostra às crianças
a tristeza de fazer das tripas coração.
Suga Tokuji



Ser feliz é decisão de cada um.
A felicidade florescerá onde cultivarmos.
Kazuko Hirokawa



Em 1987 foi fundado em São Paulo o Grêmio Haicai Ipê , sob a liderança de Hidekazu Masuda, carinhosamente chamado Mestre Goga. Em 1996, um catálogo intitulado Natureza - berço do haicai , contendo 1400 kigos brasileiros foi publicado em comemoração ao Centenário da Amizade Brasil-Japão.
Como tantas outras boas contribuições que os japoneses nos trouxeram, sua poesia enriquece nossa visão do mundo. Harmonizemo-nos, pois, com a natureza e com todos os outros povos, nossos irmãos.

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